quinta-feira, 16 de junho de 2011

Continuação do Grupo Focal

Objetivos

Geral: conhecer as principais diferenças entre a alimentação vegetariana e a onívora.

Específico: conhecer as principais influências sobre a escolha do regime alimentar dos participantes; as principais divergências/preconceitos entre os tipos de alimentação; melhor a relação que há entre os principais grupos: onívoros e vegetarianos; a base fundamental de cada grupo: influência social, religiosa e ambiental.

Metodologia

O grupo focal foi realizado na sala 4 da Faculdade de Ceilândia (FCE), no período das 12 horas até as 13 da tarde do dia 08 de junho de 2011, com a reunião de dois grupos (vegetarianos e onívoros) de 5 pessoas, cada, sendo que no grupo dos vegetarianos havia 4 alunos e uma professora da faculdade.

Antes da discussão, nós nos apresentamos aos grupos e, os mesmos se apresentaram dizendo seu nome, curso e semestre que cursava, ou no caso da professora, a que colegiado pertencia. A moderadora durante a discussão lançou as seguintes perguntas:

1. Por que vocês optaram por esse estilo de vida?

2. Há preconceito sobre seu estilo de vida?

3. Quais as melhoras para sua saúde que o seu estilo de vida lhe proporciona? Essa opção lhe traz algum risco de saúde?

4. Como a sua alimentação influencia o meio ambiente?

5. O que vocês dizem da utilização de técnicas que aprecem animais?

6. O que vocês pensam sobre a criação de animais para o consumo alimentar?

Para a coleta de dados e registro das reações foram utilizados: gravador, filmadora e máquina fotográfica, permitindo a transcrição das falas de cada participante e, suas respectivas reações.

Após a discussão, foi oferecida aos participantes uma salada como uma forma de agradecer a contribuição para a pesquisa.

Resultados e discussões

Para a apresentação dos resultados, dividiu-se o tempo total do debate em 4 partes, para melhor compreensão:

Parte 1: compreendeu a escolha da opção alimentar;

Parte 2: compreendeu o convívio social diante da alimentação (preconceito e aceitação nas diversas esferas da vida);

Parte 3: compreendeu a saúde e o bem-estar relacionado à alimentação;

Parte 4: compreendeu questões humanistas relacionadas à questão ética, de acordo com a filosofia de cada escolha

Parte 1: escolha da opção alimentar

PARTICIPANTE 10: “A diversidade da alimentação dos onívoros, né? Por que escolhi ser onívora. Bem, eu fui criada comendo carne. Pro meu pai e para a minha mãe a ausência de carne, até mesmo por uma questão cultural, a ausência de carne na mesa era sinônimo de pobreza. Então, principalmente para a minha mãe, que é de uma origem pobre e veio para cá com poucos recursos na adolescência... meu pai também veio do interior de Minas Gerais, chegou aqui, até eles trabalhar, conseguir alguma coisa na vida... então quando eles chegaram aqui... então há uma questão cultural de que a ausência da carne na comida, na alimentação diária, era um sintoma de pobreza, que a pessoa tá passando necessidade. Então se eles fossem ao mercado e encontrassem com os vizinhos lá e não passassem no açougue eles pensavam assim que “as pessoas vão achar que estamos passando necessidade em casa”. A gente não deixava de comer carne dia nenhum. Meu pai, ele era assim, tão carnívoro que participava de rifas em que o animal era o prêmio: levava um quarto da vaca pra casa, levava o porco e minha matava, né? Meus pais não são os únicos a fazerem isso. Eu acho que muitos brasileiros passaram por isso, né? Eu não gosto de ser onívora, eu já tentei ser vegetariana, mas é uma falta, mas é uma escolha: ou você come carne ou você se sente mal no seu dia, mesmo que você esteja bem nutrido.”

PARTICIPANTE 5: “É eu sou vegetariana e fui criada sendo onívora e, para mim era muito assim: família do interior... pegava o porco pra matar, essas coisas. Mas nunca tive contato direto com isso. A partir do momento, mais ou menos aos doze anos que vi o animal, eu me senti extremamente mal assim, como minha família fazia isso? Eu achava isso inaceitável. Nesse dia eu vi abater o animal e não comi, depois segui minha vida normal. Essa questão cultural é muito tensa, pois ela acaba por alienar a gente, mesmo por que a gente não vê, a gente compra lá a embalagem direitinho com a carne. Depois eu tive contato com alguns estudos, outras coisas e, eu já tinha muita vontade de deixar de comer e, aí comecei aos poucos. E assim o que eu vejo que ser vegetariana é mais que uma escolha alimentar, é uma questão de vida. A gente acha que assim a gente pode mudar o mundo aos poucos, nas pequenas coisas que a gente pode escolher.”

Parte 2: convívio social diante da alimentação (preconceito e aceitação nas diversas esferas da vida)

PARTICIPANTE 5: “Assim, na questão de convívio social, a maioria dos vegetarianos se dão melhor com outros vegetarianos, até pra sair e comer. Mas eu não tenho nenhum problema com isso. Eu vou à churrascaria com os meus amigos, eu vou à pizzaria, e peço a opção que não tenha carne porque o que importa na verdade é o convívio. Mas isso é uma coisa que dificulta também. E assim, eu não posso dizer que as vezes também não me incomoda...”

PARTICIPANTE 3: “Aqui a gente tem acesso a marmitaria, a gente pede pelo telefone e fala para eles colocarem apenas arroz, feijão, salada. No meu caso, eu sou vegan, ai eu peço para que não tenha derivados do leite, de carne e de ovos. Aí fica mais seletiva e às vezes fica mais complicado para eles. E quando eu vou sair para um lugar assim, eu já lancho antes. E é legal de ver o carinho que as pessoas têm em preparar um prato a parte e falam: esse aqui não tem nenhum produto de origem animal, você pode comer. Então, em relação a isso eu consigo conviver de forma tranqüila. E eu também acho bom que quando eu faço uma comemoração em casa, com pratos vegeratianos, veganos. Embora eu seja a única pessoa vegan na minha família, essas pessoas vem e aceitam comer esses pratos que não são de origem animal. Assim, eu consigo conviver de forma harmônica com os onívoros. E em relação aos pratos vegetarianos, é que em Brasília tem um grupo de vegetarianos, que uma vez por mês, esse grupo se reúne, no ultimo domingo de cada mês, e é uma reunião aberta pra quem não é vegetariano. Lá nós discutimos muitos temas, inclusive um Projeto de Lei aqui do Distrito Federal que institui, se eu não me engano no primeiro domingo de outubro, o dia do vegetarianismo. E nesse dia, haveria até um esforço para que as instituições públicas não ofereçam carne no cardápio, para que as pessoas possam exercê-las”.

PARTICIPANTE 3: “O projeto de lei, inclusive já houve inauguração da campanha segunda sem carne, né? Onde uma vez por semana se convida para que na refeição não haja carne no almoço, nem no jantar. Na iniciativa de tentar diminuir o impacto. A prefeitura de Niterói lançou oficialmente a Segunda sem carne. Nas escolas, nos presídios não se oferecem carne. E tem uma série de outras opções. O número de vegetais, as especificidades são muitos produtos vegetais. É possível ter uma dieta balanceada, equilibrada, nutritiva, saudável sem precisar da carne. Agora tem uma preocupação vegetariana pra quem é vegan em relação à deficiência de vitamina B12, aí sim precisa se fazer a suplementação. O vegano só não vai conseguir vitamina B12 porque esta só está presente em alimentos de origem animal, por isso se faz a suplementação.”

PARTICIPANTE 8: “Então, a iniciativa de uma segunda-feira sem carne é muito boa, muito válida, mas teriam que visar o porquê dessa segunda-feira sem carne me traria benefícios? Por que que se eu deixar de comer carne uma vez na semana vai fazer com que eu diminua a matança sem cuidar do animal, ou vai diminui a questão da poluição de desmatar uma grande quantidade de terra para a produção agropecuária. Então tem que ter a questão desse convencimento, baseado em fatores, pontos fortes, aí seria muito válida a iniciativa. Eu sou a favor de uma campanha, agora a questão do governo por si só de fazer com que as instituições públicas não oferecerem carne, é uma questão até plausível. Agora, passar um decreto de lei, você está forçando a pessoa a pensar de outro jeito. Mas se for uma campanha, uma forma de conscientização, até porque se uma pessoa escolhe ser vegetariana não é por uma imposição mais sim pela força de seus argumentos. Então, uma campanha sim, mas uma lei ou algo do tipo eu acho que não seria muito bem aceito.”

Parte 3: saúde e o bem-estar relacionado à alimentação

Visão dos vegetarianos:

* Saúde:

PARTICIPANTE 2: “Quando você vira vegetariano você se preocupa mais com a saúde , não é só não comer carne, eu tenho que correr de manhã, eu tenho que fazer uma caminhada diariamente, parece que abre um leque de possibilidades, (...)eu tenho a escolha de como eu quero envelhecer.”

*Sistema Digestivo:

PARTICIPANTE 5: “Por que você não tenta cortar a carne por uma semana mais ou menos para você ver se tem alguma diferença, (...) e isso é um fato porque a carne demora muito mais tempo para digerir do que os vegetais e nesse aspecto posso afirmar empiricamente”

PARTICIPANTE 2: “Quando você vai ao banheiro, você sente uma diferença totalmente gritante, você sente também que você está melhorando biologicamente”.

*Aparência física:

PARTICIPANTE 2: “Quando você pára de comer carne você sente na sua pele a diferença, você sente nas suas unhas a diferença (...)elas ficam mais saudáveis, menos quebradiças, crescem mais rápido”.

Visão dos onívoros:

PARTICIPANTE 8: ”A carne foi essencial para o desenvolvimento do ser humano, a busca pela carne, o ganho nutricional . Se fosse cortada nós não teríamos evoluído, chegado onde nós estamos hoje. Se você tiver uma alimentação balanceada comendo carne, comendo verduras e hortaliças a carne não é ruim, a carne faz bem”.

Dúvidas surgidas pelos onívoros:

PARTICIPANTE 10: “Por que vocês satanizam tanto a carne? Por que se preocupar tanto com os animais se existem causas humanas com as quais todos nós devemos nos preocupar?”

PARTICIPANTE 8: “Eu quero saber qual foi o ganho que a comunidade vegetariana teve, porque na minha opinião ser vegetariano é muito pouco ainda, se o objetivo é querer melhorar o mundo:

- De que adianta ser vegetariano e usar Nike sabendo que tem uma empresa na África que explora?

-De que adianta ser vegetariano e consumir produtos que foram testados na pobreza da África?

Resposta:

PARTICIPANTE 6: “Eu não acho que os vegetarianos só se preocupam com os animais e exclui todo o sofrimento humano, isso que revolta, uma coisa não exclui a outra, quando você se torna vegetariano sua visão de mundo muda, fica melhor (...)”

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